Eu cheguei ao ponto de abandonar o meu emprego, que era de caixa no banco Itaú. A barra estava pesada para mim, muita tristeza e depressão. Em casa só eram brigas e discussões. E, a coisa toda já vinha de longe. O fator família pesa muito, principalmente quando somos jovens, e para aumentar ainda mais o meu sofrimento, tinha a questão do lugar onde morávamos. Nunca gostei de São Paulo, talvez seja pelo fato do ambiente agressivo no qual vivia somado a própria característica da cidade. A feiúra de São Paulo estava diretamente ligada às obras constantes, pois nunca parecia pronta. Bem perto e ao longe, vários edifícios em construção e outros recém-construídos me cercavam, deixando no ar uma sensação de ameaça: não existiam horizontes para meus olhos e nem o pôr-do-sol. Existia somente o barulho do trânsito congestionado e multidões nas calçadas apressadas pelo tempo.
Chegando em Salvador, com pouco dinheiro, fui atrás de trabalho. Achei num anúncio um de vendedor de bilhetes da raspadinha (loteria instantânea). Naquela época era ilegal, não tinha ainda autorização do governo, como o jogo do bicho é até hoje. Saí pra vender os bilhetes escondido da polícia. Ganhei dinheiro. Fiquei numa boa por três meses em Itapoã, terra de Dorival Caymmi. Fiz muitos amigos lá, nem lembrava que São Paulo existia. Foi muito importante esta fuga para me fortalecer psicologicamente, eu estava quase enlouquecendo. Ser criado por uma beata de igreja onde se apanhava três vezes, não era brincadeira não. A primeira era na rua com os moleques que me zoavam por causa da bebedeira do meu pai, a segunda porque ela achava que era eu que procurava as brigas e me castigava, e a terceira porque ela achava pouco o seu castigo e contava pra ele me castigar mais ainda.
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Será que é vergonha roubar mas não poder levar?
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