Mas nem Cubatão
escapou!
As sesmarias que consistia na doação gratuita de terra por Portugal, foi
uma constante no Brasil colônia. Em 1643, a sesmaria de Pilões em Cubatão é
doada à Companhia de Jesus, sendo a primeira de uma série de aquisições
(doações, permutas, compras ou até mesmo por meio de seqüestros de terras). É
denominada Fazenda Geral de Cubatão ou simplesmente Fazenda Geral dos Jesuítas,
que devido à sua localização geográfica privilegiada junto ao rio Cubatão,
propiciou a cobrança de pedágio – aliás, os Jesuítas foram os primeiros a
praticar este tipo de tarifa, o que ocasionou muitas críticas na época, pois
taxava a navegação sobre um bem da natureza, o rio. Esta prática, além de
dificultar o esforço colonizador, enriquecia a Santa Igreja.
E, hoje em dia, temos a cobrança do pedágio da fé das igrejas
evangélicas pra ir pro céu. Os 10% alavanca a riqueza da Igreja em detrimento
da ignorância do povo que desconhece que o céu também é um bem da natureza, por
tanto, uma dádiva de Deus.
Um testemunho de dignidade
Paulo Mota
Em fins do século 19 e início do 20, judeus poloneses fugiam do anti-semitismo
(perseguição religiosa), que era forte no Leste Europeu e que preconizava os
terrores do nazismo.
Muitas jovens vieram para o Brasil, principalmente Santos, sozinhas,
atraídas por ofertas de emprego. Professoras, babás, governantas, etc. Os
convites eram armadilhas. Acabavam sendo obrigadas a se prostituir, virando
escravas dos que as atraiam. Mas essas mulheres não perderam a dignidade,
apesar das condições ultrajantes em que passaram a viver.
Nunca deixaram de seguir as tradições judaicas. Formaram associações de
amparo mútuo, para casos de doença, velhice e até morte. Compraram um terreno
em Cubatão, então distrito de Santos na época, e fizeram ali, em 1929, um
cemitério, onde eram sepultadas de acordo com valores culturais e religiosos de
seu povo. Nos anos 1940, o Governo Federal desapropriou o terreno para
construção da Refinaria Presidente Bernardes.
Os corpos foram exumados e transferidos para uma área de 800 metros
quadrados, anexa ao cemitério municipal. Surgiu, assim, o Cemitério Israelita
de Cubatão, que ganhou importância histórica por causa da saga das “polacas” e
foi tombado, em 2010, pelo Patrimônio Histórico de Cubatão (foi o primeiro
caso, no gênero, no País).
Ali há 75 túmulos, sendo 55 de mulheres. As primeiras lápides datam de
1929; e desde 1966 não se fazem mais sepultamentos no local.
Virou uma espécie de santuário, silencioso, solitário. Estive dia destes
lá, acompanhando uma comitiva de escritores estrangeiros, de origem judaica.
Foi um momento de emoção, para os visitantes. Não há como não se emocionar
diante daqueles túmulos, cujas lápides estão praticamente ilegíveis pela ação
do tempo, reservando o anonimato para quem ali jaz, mas testemunhando o exemplo
de mulheres que se mantiveram dignas em um ambiente indigno.