Mal amanheceu o dia, e seu Jé já se prepara para ir ao trabalho. Levanta resmungando; bufando como touro bravo. Conseguiu a muito custo comprar sua casinha. Antes morava num cortiço com mulher e quatro filhos, tendo que dividir banheiro comunitário. A vida na periferia não é fácil, muita lama e tempo de demora para pegar ônibus lotado. Sai cedo e volta à noitinha, antes passa num bar para tomar uma pinguinha. O tempo em São Paulo muitas vezes é cruel, chove muito e ocorrem alagamentos, o trânsito entope, a vida paralisa. Seu Jé tem saudade do seu Sertão, lá não convive com ônibus lotado e nem com a violência da cidade grande.
Em sua casa é um coronel, quer descontar na mulher e nos filhos a falta de sorte de seu destino cruel. Embriagado bate em todo mundo, mas quando chegam os homens da lei, fica mansinho. Em sua vida sofrida, não tem amigos. Sempre presta atenção nas desgraças alheias falando das notícias ruins. Talvez para mostrar que não é o único condenado na inconformável vida de retirante nordestino.
Seus filhos acordam, e exige a benção. É cabra pra cá, é cabra pra lá, quando não cabrita. São os modos carinhosos de tratar suas crias. A sua fúria é invocada na fala. A sua estupidez é grande e fere sua família. Criar filhos para ele é dar casa e comida. Amigos são feijão e arroz na barriga.
Lucas Pierre (em espírito)
Vejam – www.ed10alemao.wordpress.com
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Será que é vergonha roubar mas não poder levar?
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