O segredo de uma boa
relação entre crianças é saber dividir, seja com irmãos ou com colegas da
escola. Para Solange Martins Ferreira, psicóloga clínica e supervisora do
Hospital Santa Catarina, é papel dos pais ensinar a prática. “Os filhos acabam
sendo um reflexo de sua vivência diária. As famílias já não encontram tempo
para o lazer, e outros fatores fazem com que a correria do dia a dia seja
refletida e absorvida pela criança. Os filhos aprenderão com os pais por meio
de suas atitudes de generosidade e empatia com o próximo.”
Há 20 anos, a doméstica
Odete Freitas, 60 anos, participa do grupo Anjos da Noite, que, aos sábados,
leva comida a moradores de rua da região central de São Paulo. “Cozinhamos de
manhã e, à noite, entregamos às pessoas. Tem gente que sabe até nosso nome”,
conta.
Quando seu neto, Jorge
Eduardo Freitas da Silva, 11 anos, tinha apenas quatro meses, começou a
acompanhá-la na atividade. Desde então, não parou mais. “Antes, ele ia no colo
ou ficava na cadeirinha dormindo. Agora, ele ajuda em tudo”, orgulha-se a avó.
Para Jorge, a atividade é
uma de suas favoritas. “Eu gosto muito de ir lá, descascar batata, carregar as
comidas, entregar para as pessoas. Fico feliz em ver os outros felizes”, afirma
o menino.
Odete recorda que foi
incentivada pelos pais a fazer trabalhos voluntários desde criança. “Meu pai me
mandava ajudar famílias que precisavam de alguém para limpar a casa ou
cozinhar. Eu era voluntária sem nem saber”, ri. Certa de que o trabalho faz
bem à alma, ela conta que o garoto chora quando não pode ir. “Às vezes, ele
apronta, e eu falo: Amanhã você não vai ao Anjos. Pronto. No dia seguinte, ele
acorda com febre, chorando. Fica até doente se não for entregar comida”,
diverte-se. “Essa atividade fez com que ele aprendesse a dar valor ao que tem.
Ele vê os moradores de rua que não têm cama e agradece por ter a dele. A mesma
coisa com a comida. É interessante ver que as pessoas respeitam muito o fato de
ele ser uma criança, conversam. É uma atividade na rua, mas ninguém corre
risco.”
Por
um futuro melhor
Foi na alimentação que
Gabriel Baum, 12 anos, encontrou sua missão de vida. O Chef mirim tem com
projeto de vida salvar crianças dando a elas boa alimentação. Vegetariano, ele
saiu da escola para estudar em casa e ajudou a fundar a Escola com Asas com sua
mãe, a empreendedora Sabrina Campos, 33 anos. “O Biel sofreu bullying em vários
colégios, não só vindo de alunos, mas de professores que não sabiam lidar com
uma criança de altas habilidades, algo muito comum. Chegamos à conclusão de que
não era um ambiente saudável para ele e que pouco estava contribuindo para sua
formação humana. Ele saiu da escola aos oito anos, e criamos a rede de
aprendizagem livre, onde todos podemos aprender e ensinar”, explica Sabrina.
Para ela, o que ajudou seu
filho a desenvolver esse sonho foi uma vida toda cheia de exemplos. “O segredo
é aprender na prática. Uma coisa é você pedir à criança que faça determinada
ação ou que seja de tal jeito. Outra é dar o exemplo. Isso passa a ser natural para
ela.”
Gabriel se envolveu na
culinária com apenas oito anos. Fã do chef britânico Jamie Oliver, dedicou um
ano de sua vida a escrever um diário para entregar ao seu ídolo. E conseguiu.
Recentemente, ele lançou o relato em formato de livro, chamado “Meu Diário para
Jamie Oliver”. A renda é toda revertida para a Escola com Asas. Nas redes
sociais, Biel sempre relata como ajuda crianças carentes a se alimentar. “São
tantos projetos sociais de que participo que já perdi a conta. Mas gosto do
trabalho com crianças doentes crônicas, com jovens cegos de Camarões, na
África. Foi marcante também quando apoiei uma campanha de prevenção do
desaparecimento infantil, quando tinha quatro anos, para a ONG Mães da Sé.”
Para o garoto, mudar o
mundo é algo que tem de acontecer desde cedo. “Fazer o bem é ser inteligente. A
paz começa em cada um e no que fazemos para o outro. Semeando o bem não é
possível colher o mal. Se cada um estender a mão um pouco, todos os dias,
teremos um mundo pacífico”, prega o garoto.
Além da ajuda em projetos
sociais, incentivar a doação de roupas e brinquedos é um primeiro passo para
ensinar à criança que nem todo o mundo pode ter o que ela tem.
Anualmente, Kauane Mendes
Losi, dez anos, recolhe roupas e brinquedos que não usa mais para poder doar a quem
necessita. Assistente de sustentabilidade, Deise Mendes Aragão, 33 anos, mãe da
menina, afirma que a encoraja a realizar essas doações para que ela entenda a
importância de partilhar, especialmente por ser filha única. “Minha filha
continua sendo criança, quer ter as coisas dela, mas sabe dividir. Quando você
explica o valor da partilha, muda o caráter. Eu cresci com uma irmã, mas ela
não tem isso ainda. Taí a importância de ela se envolver nesses projetos”,
explica Deise.
Kauane conta que não se
importa de se desfazer de roupas e de brinquedos. “Penso que estou fazendo
outra pessoa feliz. Uma vez, doei uma boneca para uma menina. Passou um tempo,
e eu a vi com a minha boneca e vi que estava tão alegre. Isso me fez bem
também”, recorda. Pensando em tantas injustiças que vê, ela conta que sonha em
ser advogada. “Tem tanta coisa ruim no mundo”, lamenta a pequena.
Deise afirma que os colegas
de sala da filha não costumam receber esse incentivo. “Vivemos em uma sociedade
do ‘meu’. Apesar de a Kauane ter o que gosta, ela é extremamente amável e tem
iniciativa. Separa as coisas que quer doar e conserva para que outra pessoa
possa usar. É muito bonito isso.”
O
lado bom de fazer o bem
Além das doações,
especialistas explicam a importância de apresentar às crianças a realidade de
quem precisa contar com a caridade. “Os pais devem incentivar e acompanhar os
filhos em visitas a orfanatos, onde a criança pode brincar com outras de uma
realidade diferente. Levar os pequenos a asilos ajuda a fortalecer o respeito
com os idosos e a fazer com que eles aprendam com a experiência de vida
daqueles que têm muito a ensinar”, indica Solange.
“Outra opção são as ONGs de
proteção aos animais, que incentivam uma relação de respeito e cuidado com o
animal. É importante fazer a criança querer se envolver nesses atos de
solidariedade. Se ela for forçada, não vai ter efeitos positivos”, complementa
Letícia Guedes, psicóloga comportamental da clínica Vivencialle.
Autor do livro best-seller
“O Poder da Atitude”, Alexandre Slivinik conta que as crianças e a família têm
muito a ganhar com a prática de qualquer atitude voltada a beneficiar o
próximo. “Muitas vezes, as crianças com mais condições têm as coisas mais
fáceis. Quando elas percebem que existem outras pessoas que não têm esse mesmo
acesso a uma vida de regalias, elas dão mais valor ao que têm. E, quando podem
oferecer ao próximo essas oportunidades, valorizam ainda mais o que estão
vivendo. É um bem espiritual”, analisa.
Se essa questão de
solidariedade não for praticada na infância, com o passar dos anos, quando
chegar à idade adulta, aquele ser humano terá a tendência a se fechar no seu
mundo, podendo causar um dos principais males da atualidade: a depressão.
Quanto mais a criança compartilhar e tiver contato com outras pessoas,
principalmente de realidades diferentes, melhor será para ela no futuro, já que precisará lidar
com isso freqüentemente ao longo da vida.
Autoconfiança, autoestima,
empatia e desenvolvimento social são outras características que só a
generosidade promove dentro da criança. “Ela vive novas experiências, conhece
novas realidades, amplia e diversifica o círculo de amizades, além de sentir
satisfação ao se fazer útil ao outro, participando da construção de uma
sociedade mais justa”, encerra Ana Paula Magosso.
Matéria
elaborada por Gabriela Simionato
Reflexão
Criar filhos não é só dar
casa e comida, mas principalmente dar a motivação para uma vida feliz. A
criação do cão, que é aquela da austeridade e da surra, só traz rebeldia. Quando
se tem afeição automaticamente se tem cumplicidade e respeito. As obrigações ou
tarefas que precisam ser desempenhadas pelos filhos são feitas de forma mais amistosa
e prazerosa, porque eles sabem que estão agradando pessoas queridas. Até nas
empresas mudou-se o modo de relacionamento de quem manda. Antes aonde era
chamado de empregado, hoje é colaborador. O líder de verdade é aquele que sabe
conquistar a simpatia dos seus seguidores.
A verdadeira condenação não
está na pobreza material, mas sim num estado de espírito sombrio formado por
criações erradas. Modificando ligeiramente a famosa alegoria de Platão, pode-se
facilmente compreender o que é a Humanidade. Imaginai seres imperfeitos, pouco
evoluídos, mas com uma infinidade de poderes latentes; imaginai que, nascendo
em sombria caverna, passem o melhor do tempo a se entredevorarem. A todo
instante retiram dali certo número e os transportam à luz do dia para que eles
gozem das belezas da Natureza. Os que ficam na caverna choram os parentes que
se foram, e os consideram desaparecidos para sempre. Entretanto, na abóbada da
furna, há umas fendas por onde se filtram os raios do dia. Certo número de
estudiosos mais adiantados chegam até essas aberturas; crêem ter visto que, de
fora, lhes fazem sinais. Aqueles – dizem eles – são os nossos, que daqui levam
todos os dias e a todo o instante.
Esta caverna é a nossa
mágoa que carregamos como uma cruz pesada. Os sinais são as tristezas, a
depressão, o choro e a solidão. É preciso deixar a luz atravessar as nossas
trevas.
Os filhos da África foram
humilhados e abatidos. Sobre os seus ombros flagelados carrearam-se quase todos
os elementos materiais para a organização física do Brasil e, do manancial de
humildade de seus corações resignados e tristes, nasceram lições comovedoras,
imunizando todos os espíritos contra os excessos do imperialismo e do orgulho
injustificáveis das outras nações do Planeta, dotando-se a alma brasileira dos
mais belos sentimentos de fraternidade, de ternura e de perdão.
AVISO
Saúde e bem estar –
Medicina e Espiritualidade
O Grupo de Estudos de
Medicina e Espiritismo (GEME), vinculado à Associação Médico-Espírita de Santos
(AME Santos) promove, às 18 horas do dia 23, a XV Jornada de Medicina e
Espiritualidade. Entre os temas, a importância da preservação da saúde mental e
suas relações com a espiritualidade para reforçar o psiquismo. Participam das
discussões o psiquiatra Flávio Braun Fiorda e a psicóloga Maria Heloisa
Bernardo. Inscrições: R$ 8,00 (estudantes e idosos) e R$ 10,00 (não
estudantes). Endereço: anfiteatro do Bloco E da Unisanta (Rua Cesário Mota, 8).
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