Escrito por Leo Lince – Correio da Cidadania
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Quarta,
11 de Abril de 2012
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Há mais
de dois mil anos, na Judéia, um filho de Deus foi arrastado em sacrifício e,
sendo quem era, se deixou morrer para nos salvar. Ele anunciava outro reino,
outro mundo possível, ancorado em valores no contraponto radical aos
dominantes na época. Afrontou vendilhões, chicoteou os serviçais da banca de
câmbio instalada nas portas do Templo. Uma “práxis” perigosa para os
desígnios de Roma, uma ameaça para os artífices locais da subordinação ao
Império. Condenado como Messias impostor, foi crucificado.
Os
passos do seu calvário são rememorados até hoje, em quase todo o mundo,
durante a semana santa.
Outro
filho de Deus, Dimitris Christoulas, farmacêutico aposentado de 77 anos, em
plena semana santa do ano em curso, também buscou a morte como sinal de
alerta. Ele se matou com um tiro na cabeça em plena praça pública. Foi na
Grécia, berço e, ao que tudo indica, túmulo de um ocidente corroído até a
medula pelo poder do dinheiro. Foi na Praça Syntagma, ponto central de
protestos dos “indignados” atenienses agora sem Ágora, localizada no lado
oposto ao Parlamento, protegido por tropas de choque e dominado pelos
serviçais do império financeiro que avassala o mundo.
Embora
separados por dois milênios, são acontecimentos emblemáticos dos tempos
agônicos, aqueles que demandam, prenunciam e buscam “passagens” para outra
sina. O mistério profundo do limite extremo, o da própria morte, foi o
caminho encontrado por Jesus Cristo e Dimitri Christoulas como forma de
afirmar outros valores e abrir caminhos na busca por ressurreições.
Segundo
testemunhas, antes de atirar na própria cabeça, o Christoulos grego gritava:
“Não quero deixar dívidas para os meus filhos”. A Grécia está em recessão há
cinco anos. Lá, uma em cada cinco pessoas está desempregada e sucessivos
cortes de salários e pensões atingem os que ainda têm emprego ou estão
aposentados. O trabalho duro e o suor do rosto já não garante o pão nosso de
cada dia. A vertigem cruel do capitalismo financeiro acrescentou gravames ao
pecado original. A morte de Christoulos é um sinal de alerta. Tal qual o
crucificado do Gólgota, ele quis livrar os filhos de fardos e reaproximá-los
da árvore da vida.
Na nota
escrita de próprio punho, um texto terrível, Dimitris afirma: “não encontro
outro caminho para reagir a não ser dar um fim digno e definitivo antes que
eu tenha que começar a revirar o lixo para sobreviver”. Em trecho anterior,
deixa claro que a brutalidade da crise prepara as explosões do ódio inumano:
“não tenho idade que me permita responder ativamente, ainda que seria o
primeiro a seguir alguém que tomasse um fuzil kalashnikov”. São os
indicadores de um tempo histórico difícil de compreender, onde a defesa da
vida se dá sob o signo da morte.
O
primeiro ministro, que atende pelo curioso nome de Lucas Papademos, lamenta o
ocorrido. Mas está otimista. Segundo ele, basta aplicar com rigor os remédios
recomendados pela “tróica” do império financeiro para tudo melhorar daqui a
um ano e meio. Lá como cá, o receituário é o mesmo: reduções de gasto
público, privatizações, drástico pacote de cortes nos direitos sociais e
trabalhistas. E dinheiro aos montes para as burras do cassino financeiro.
O líder
dos “socialistas”, Evangelos Venizelos, outro nome curioso, compartilha no
atual governo a gerência do capitalismo cruel. Ele se declarou triste e “sem
palavras” diante do episódio que chamou de “monstruoso”. Julga alheias responsabilidades
que são também suas. Lavou as mãos como Pilatos no credo, mas terá sempre o
seu lugar marcado entre os que fizeram verter o sangue deste justo. Aliás, o
FMI também enviou condolências.
A
cultura grega e o cristianismo são pilares de um certo ocidente que se
decompõe diante de nós, fragmentado no giro vertiginoso da roleta financeira.
Caos, metamorfose, êxodo, suplício, calvário, vale de lágrimas, expressões
caras entre os cultores das duas tradições, estão presentes no episódio que
arrastou para a Grécia as atenções da opinião publica mundial. A “via
crucis” do Nazareno foi revivida na Praça Syntagma, o coração do ocidente
profundo e profanado. Christoulos morreu para nos salvar.
Leo Lince
é sociólogo.
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OPINIÃO
Éd Alemão: os salvadores
são produtos da miséria. A miséria é produto da concentração do dinheiro, da
corrupção, do mau uso dos nossos impostos. A salvação não está em uma pessoa ou
Messias, mas na união de todos dentro de um método RACIONAL, e não religioso,
para enfrentar os problemas da família, comunidade, cidade ou país.
MESPR – Movimento de Evolução Social,
Político e Religioso
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Será que é vergonha roubar mas não poder levar?
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